terça-feira, 15 de novembro de 2011

O Diario de Anne Frank- Parte 9

Segunda-feira, 21 de Setembro de 1942
Querida Kitty :
Hoje vou contar-te coisas miudinhas da nossa vida
diária. A sra. van Daan é insuportável. A cada passo me
censura por eu falar tanto. Não perde uma ocasião para
nos irritar. Agora meteu-se-lhe em cabeça que não havia
de lavar a louça! E se uma ou outra vez se digna fazê-lo,
quando um resto de comida ficou na panela não o guarda
num pratinho de vidro como nós fazemos, deixa-o ficar.
Resultado: estraga-se e, além disso, a Margot que tem
de lavar a louça na vez seguinte, tem o dobro do trabalho.
E ainda por cima tem de ouvir da senhora :
- Coitadinha da Margot, tem tanto trabalho!
O pai e eu arranjámos agora um entretenimento engraçado.
Estamos a elaborar uma árvore genealógica da família
dele. Conta-me coisas de todos os parentes. Então sinto-me
muito ligada à família.
De quinze em quinze dias, o sr. Koophuis traz da
biblioteca alguns livros para raparigas. Gostei imenso da
série - Joop-ter-Heul - e acho bonito tudo o que escreve
Gissy von Marxveldt. Já li quatro vezes as Alegrias de
Verão e rio-me sempre com a mesma vontade das
situações cómicas.
Também voltámos aos estudos : dedico-me muito ao
francês e, só de verbos, meto todos os dias cinco dos irregulares na cabeça. Peter faz os
exercícios de inglês
a suspirar. Recebemos livros escolares novos. Eu tinha trazido de casa um sortido de lápis,
cadernos, etiquetas, borrachas de safar, etc.
Ouço muitas vezes a emissora de Orange. Ainda há
pouco acabou de falar o príncipe Fernando. Contou que
estão à espera de outro bebé... Aqui todos se admiram
da minha afeição aos reis holandeses. Há dias falou-se
dos meus estudos e que eu ainda tinha muito que aprender.
Por consequência atirei-me mais ao trabalho. Não quero
voltar, mais tarde, ao primeiro ano. Também veio à baila
que eu não tinha lido nada ultimamente. A mãe está a ler - Heeren, Vrouwen, Knechten -. Mas
este livro não mo
querem deixar ler. Para o poder ler tenho de ficar, antes
de mais nada, tão esperta e culta como a minha inteligente
e talentosa irmã. Falou-se também sobre filosofia,
psicologia e fisiologia (estas palavras tão complicadas
fizeram-me ir ao dicionário), coisas de que nada sei.
Oxalá no próximo ano já seja menos ignorante.
Verifiquei uma coisa desastrosa, é que para o Inverno
só tenho um vestido de mangas compridas e três "gilets".
O pai deu-me licença para fazer uma camisola de lã
branca de carneiro. A lã já não está grande coisa, mas o
principal é que seja quentinha. Muitas roupas nossas estão
nas casas de outras pessoas, mas só depois da guerra
poderemos ir buscá-las, se ainda existir alguma coisa.
Estava eu, outro dia, a escrever precisamente sobre
a sra. van Daan quando ela entrou. Imediatamente fechei
o caderno.
-Então, Anne, deixas-me espreitar?
-Não, sra. van Daan!
-Só a última págína, está bem?
-Não, também não!
Ai! Que susto que passei. Era mesmo naquela página
que se lhe faziam referências pouco lisonjeiras.
Tua Anne.

Sexta-feira, 25 de Setembro de 1942
Querida Kitty:
Ontem - visitei - os van Daan, lá em cima, para tagarelar
um bocadinho. De vez em quando tem graça. Comemos
"bolachas de naftalina" (a lata das bolachas está no guarda-roupa,
onde há bolinhas contra a traça) e tomámos
limonada.
Falámos do Peter. Eu disse-lhes que ele, por vezes,
se queria chegar de mais a mim e que isto não me agradava
nada e que eu detestava tais demonstrações. Com modos
paternais perguntaram-me se eu não queria, apesar de
tudo, ser muito amiga do Peter, pois ele gostava de mim.
Pensei de mim para mim : ah!, meu Deus. Mas disse
em voz alta:
-Oh, não!, de maneira nenhuma!
Peter é esquivo como todos os rapazes que não conviveram
bastante com raparigas.
A "comissão do mergulho", formada pelos nossos protectores,
é de facto engenhosa. Ouve o que os senhores
inventaram! Querem fazer chegar notícias nossas ao
sr. van Dijk, um amigo nosso e representante principal da
firma "Travis". Aliás, ele tem também muitas coisas nossas
guardadas em sua casa. Assim escreveram uma carta a
um farmacêutico na Zelândia Meridional com o pedido
de uma informação. Juntaram um envelope que este
cliente utilizará para a resposta. Ora, o endereço da nossa
casa comercial foi escrito à mão por meu pai. Quando a
carta voltar, eles tirar-lhe-ão a resposta do farmacêutico,
meterão uma carta escrita pelo pai e, assim, o sr. van Dijk
terá um sinal de vida nosso. Escolheram a Zelândia, na
fronteira belga, sítio onde se torna mais fácil fazer passar
cartas assim.
Tua Anne.

Nenhum comentário:

Postar um comentário