Quinta-feira, 12 de Novembro de 1942
Querida Kitty:
O Dussel ficou muito contente quando a Miep lhe
falou de um bom esconderijo. Ela aconselhou-o a vir o
mais depressa possível, de preferência depois de amanhã.
Mas ele hesitou porque ainda precisava de pôr as fichas
em ordem, acabar o tratamento de dois clientes e pôr
as contas em dia. Foi o que a Miep nos contou hoje de
manhã. Não achámos nada bem aquilo, pois qualquer
demora pode ser prejudicial. Tais preparativos podem
exigir, da parte do Dussel, explicações a pessoas que não
queríamos que desconfiassem de nada. Pedimos à Miep
que o aconselhasse a vir no sábado. Ele disse que não,
que vinha na segunda-feira. É ridículo. Devia ter aproveitado
logo. Se o prenderem na rua, também não pode
pôr em dia a caixa ou acabar o tratamento dos clientes.
Quanto a mim, acho que o pai não devia ter cedido. De
resto, nada de novo.
Tua Anne.
Terça-feira, 17 de Novembro de 1942
Querida Kitty:
O Dussel chegou. Tudo correu bem. A Miep tinha-lhe
dito que esperasse em frente do correio geral. Pontualmente
lá apareceu. Então o sr. Koophuis, que o conhece,
foi ter com ele. Disse-lhe que o senhor com quem se queria
encontrar vinha um bocado mais tarde e que ele, Dussel,
esperasse antes junto da Miep, no escritório. Koophuis
meteu-se num carro eléctrico, enquanto o Dussel seguia
a pé. Chegou ao escritório às onze e meia. A Miep fez-lhe
tirar o sobretudo para que ninguém visse a estrela amarela
e depois pediu-lhe que esperasse no escritório particular
do sr. Koophuis.
Queria ela que a mulher das limpezas se fosse primeiro
embora. Mas, claro, o Dussel de nada sabia. Depois a
Miep levou-o para o andar de cima. Disse-lhe que não
podia estar mais tempo naquele escritório porque, daí
a um bocado, os chefes tinham uma reunião. O espanto
do homem foi grande quando viu a porta giratória abrir.
Ambos entraram.
Nós estávamos todos lá em cima, com os van Daan,
para receber o nosso companheiro com café e conhaque.
Entretanto a Miep fê-lo entrar na nossa sala de estar.
Ele reconheceu logo a mobília, mas, mesmo assim, não suspeitou
que estivéssemos tão próximos. Quando a Miep
lhe disse ficou de boca aberta, e ela nem lhe deu tempo
de a fechar: fê-lo subir imediatamente a escada.
O Dussel deixou-se cair numa cadeira, cravou os olhos
em cada um de nós e não quis acreditar no que viu.
Depois começou a balbuciar:
- Mas... não... mas então, não estão na Bélgica?
O tal oficial não os veio buscar? E o automóvel? Não
foram bem sucedidos na fuga?...
Explicámos-lhe que nós próprios tínhamos feito constar
a história do oficial para despistar as pessoas, em especial
os alemães, que podiam andar à nossa procura. O
Dussel ficou varado com tanto engenho e mais varado ainda
ficou quando se meteu a esquadrinhar todo o nosso esconderijo
tão bem imaginado e tão bem montado. Comemos
todos juntos. Depois ele deitou-se um bocado, tomou
o chá connosco e pôs nos devidos lugares as suas coisas,
que tinham trazido antes de ele chegar. Depressa se sentiu
como em sua casa, sobretudo depois de lhe terem
sido entregues os regulamentos do anexo (o plano foi
feito pelo sr. van Daan).
Prospecto e guia do anexo
Fundação criada propositadamente para a estadia
provisória de judeus e outros que tais.
Aberta todo o ano
Belamente localizada, calma, com arredores sem florestas
no coração de Amesterdão. Acessível pelas linhas
19 e 17; de automóvel ou bicicleta; e a pé para aqueles
a quem os alemães proibiram o uso de qualquer veículo.
Renda Gratuita.
Cozinha de dieta sem gorduras
Água corrente
No quarto de banho (sem banheira) e, infelizmente,
também em várias paredes.
EspaÇo largo reservado a bens de toda a espécie.
Central de rádio, com emissões directas de Londres,
New-York, TelAviv e muitas outras estações. O aparelho
está à disposição dos habitantes das seis horas da tarde
em diante.
Horas de repouso: Das dez horas da noite às sete e trinta da manhã. Domingo até às dez horas.
Atendendo a certas circunstâncias, também se intercalam outras horas de repouso, conforme
indicações da Direcção. Estas indicações devem ser
rigorosamente seguidas, no interesse da segurança comum!!!
Até novas ordens não há.
em surdina!
Todos os dias.
Uma lição de estenografia por semana. Inglês, Francês
e Matemática a qualquer hora do dia.
Pequeno almoço todos os dias, com excepção de domingos
e feriados, pontualmente às nove horas.
Almoço: da 1 e 15 à 1 e 45. Jantar: frio ou quente, não
tem horas fixas devido às notícias da rádio.
A "Celha" está à disposição dos habitantes todos os
Domingo
s desde as nove horas. Pode tomar-se banho no
W.C., na cozinha, no escritório particular ou no outro
escritório, conforme o gosto de cada um.
Bebidas alcoólicas fortes Só permitidas por ordem médica.
Tua Anne.
Querida Kitty:
O Dussel ficou muito contente quando a Miep lhe
falou de um bom esconderijo. Ela aconselhou-o a vir o
mais depressa possível, de preferência depois de amanhã.
Mas ele hesitou porque ainda precisava de pôr as fichas
em ordem, acabar o tratamento de dois clientes e pôr
as contas em dia. Foi o que a Miep nos contou hoje de
manhã. Não achámos nada bem aquilo, pois qualquer
demora pode ser prejudicial. Tais preparativos podem
exigir, da parte do Dussel, explicações a pessoas que não
queríamos que desconfiassem de nada. Pedimos à Miep
que o aconselhasse a vir no sábado. Ele disse que não,
que vinha na segunda-feira. É ridículo. Devia ter aproveitado
logo. Se o prenderem na rua, também não pode
pôr em dia a caixa ou acabar o tratamento dos clientes.
Quanto a mim, acho que o pai não devia ter cedido. De
resto, nada de novo.
Tua Anne.
Terça-feira, 17 de Novembro de 1942
Querida Kitty:
O Dussel chegou. Tudo correu bem. A Miep tinha-lhe
dito que esperasse em frente do correio geral. Pontualmente
lá apareceu. Então o sr. Koophuis, que o conhece,
foi ter com ele. Disse-lhe que o senhor com quem se queria
encontrar vinha um bocado mais tarde e que ele, Dussel,
esperasse antes junto da Miep, no escritório. Koophuis
meteu-se num carro eléctrico, enquanto o Dussel seguia
a pé. Chegou ao escritório às onze e meia. A Miep fez-lhe
tirar o sobretudo para que ninguém visse a estrela amarela
e depois pediu-lhe que esperasse no escritório particular
do sr. Koophuis.
Queria ela que a mulher das limpezas se fosse primeiro
embora. Mas, claro, o Dussel de nada sabia. Depois a
Miep levou-o para o andar de cima. Disse-lhe que não
podia estar mais tempo naquele escritório porque, daí
a um bocado, os chefes tinham uma reunião. O espanto
do homem foi grande quando viu a porta giratória abrir.
Ambos entraram.
Nós estávamos todos lá em cima, com os van Daan,
para receber o nosso companheiro com café e conhaque.
Entretanto a Miep fê-lo entrar na nossa sala de estar.
Ele reconheceu logo a mobília, mas, mesmo assim, não suspeitou
que estivéssemos tão próximos. Quando a Miep
lhe disse ficou de boca aberta, e ela nem lhe deu tempo
de a fechar: fê-lo subir imediatamente a escada.
O Dussel deixou-se cair numa cadeira, cravou os olhos
em cada um de nós e não quis acreditar no que viu.
Depois começou a balbuciar:
- Mas... não... mas então, não estão na Bélgica?
O tal oficial não os veio buscar? E o automóvel? Não
foram bem sucedidos na fuga?...
Explicámos-lhe que nós próprios tínhamos feito constar
a história do oficial para despistar as pessoas, em especial
os alemães, que podiam andar à nossa procura. O
Dussel ficou varado com tanto engenho e mais varado ainda
ficou quando se meteu a esquadrinhar todo o nosso esconderijo
tão bem imaginado e tão bem montado. Comemos
todos juntos. Depois ele deitou-se um bocado, tomou
o chá connosco e pôs nos devidos lugares as suas coisas,
que tinham trazido antes de ele chegar. Depressa se sentiu
como em sua casa, sobretudo depois de lhe terem
sido entregues os regulamentos do anexo (o plano foi
feito pelo sr. van Daan).
Prospecto e guia do anexo
Fundação criada propositadamente para a estadia
provisória de judeus e outros que tais.
Aberta todo o ano
Belamente localizada, calma, com arredores sem florestas
no coração de Amesterdão. Acessível pelas linhas
19 e 17; de automóvel ou bicicleta; e a pé para aqueles
a quem os alemães proibiram o uso de qualquer veículo.
Renda Gratuita.
Cozinha de dieta sem gorduras
Água corrente
No quarto de banho (sem banheira) e, infelizmente,
também em várias paredes.
EspaÇo largo reservado a bens de toda a espécie.
Central de rádio, com emissões directas de Londres,
New-York, TelAviv e muitas outras estações. O aparelho
está à disposição dos habitantes das seis horas da tarde
em diante.
Horas de repouso: Das dez horas da noite às sete e trinta da manhã. Domingo até às dez horas.
Atendendo a certas circunstâncias, também se intercalam outras horas de repouso, conforme
indicações da Direcção. Estas indicações devem ser
rigorosamente seguidas, no interesse da segurança comum!!!
Até novas ordens não há.
em surdina!
Todos os dias.
Uma lição de estenografia por semana. Inglês, Francês
e Matemática a qualquer hora do dia.
Pequeno almoço todos os dias, com excepção de domingos
e feriados, pontualmente às nove horas.
Almoço: da 1 e 15 à 1 e 45. Jantar: frio ou quente, não
tem horas fixas devido às notícias da rádio.
A "Celha" está à disposição dos habitantes todos os
Domingo
s desde as nove horas. Pode tomar-se banho no
W.C., na cozinha, no escritório particular ou no outro
escritório, conforme o gosto de cada um.
Bebidas alcoólicas fortes Só permitidas por ordem médica.
Tua Anne.
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