domingo, 13 de novembro de 2011

O Diario de Anne Frank- Parte 7

Sexta-feira, 10 de Julho de 1942
Querida Kitty:
Se calhar aborreci-te mesmo, com a descrição extensa
da casa. Mas acho que deves saber onde nos aninhamos.
E agora deixa-me continuar, pois ainda não acabei. Quando
chegámos a Prinsengracht, a Miep fez-nos subir depressa
para o anexo e fechou a porta atrás de nós. Cá estávamos.
Margot tinha chegado muito mais depressa de bicicleta
e já estava à nossa espera. O nosso quarto de estar e os
outros também pareciam arrumos atravancados. A desordem
era indescritível! Os caixotes e as malas que, no decorrer
dos últimos meses, se tinham mandado para aqui,
alastravam numa grande confusão. O quartinho, apinhado
até ao tecto com camas e roupas brancas. Se queríamos
dormir à noite em camas bem feitas, tínhamos de deitar
já mãos à obra. A mãe e a Margot não foram capazes de
mexer numa palha. Atiraram-se para cima dos colchões;
sentiam-se muito infelizes. O pai e eu, os dois
"arrumadores" da família, desatámos a trabalhar. Despejámos as
malas e os caixotes, colocámos tudo nos sítios próprios,
martelámos, esfregámos, e quando a noite chegou caímos, mais
mortos que vivos, nas camas limpinhas. Não tomámos uma só
refeição quente durante todo o dia. Também não era
preciso. A mãe e a Margot estavam nervosas de mais para comer e o pai e eu não tivemos tempo.
Na terça-feira de
manhã continuámos. A Elli e a Miep fizeram as compras
com os nossos talões de racionamento, o pai melhorou
a ocultação das luzes que tinha ficado imperfeita e
esfregámos os azulejos da cozinha. Estivemos todos bem.
Tua Anne.

Sábado, 11 de Julho de 1942
Querida Kitty :
O pai, a mãe e a Margot ainda não conseguiram habituar-se
ao sino da - Torre-Oeste -, que toca de quarto em
quarto de hora. Eu já me habituei, até acho bonito. Principalmente de noite tem algo de calmante
para mim.
Decerto gostavas de saber se este refúgio me agrada.
Para ser franca, ainda não sei. Creio que nunca me sentirei
aqui como em nossa casa. Mas com isto não quero dizer
que o acho lúgubre ou triste. Por vezes quer-me parecer
que estou numa pensão estranha. Uma concepção singular do
"mergulhar" não achas? Esta casa é realmente um esconderijo ideal. Apesar de ser um bocado
húmida, torta e
sinuosa, será difícil encontrar coisa mais confortável em
Amesterdão ou mesmo em toda a Holanda.
O nosso quarto até agora estava nu completamente.
O pai trouxe toda a minha colecção de postais de estrelas
de cinema e de vistas, e eu transformei-os, com cola e
pincel, em lindos quadros para as paredes. Agora o quarto
tem um aspecto alegre. Logo que cheguem os van Daans
havemos de construir armarinhos para as paredes e outras
coisas úteis com a madeira que está no sótão.
A Margot e a mãe vão-se habituando. Ontem, pela
primeira vez, a mãe quis cozinhar. Sopa de ervilhas!
Mas enquanto tagarelava em baixo esqueceu-se da sopa
por completo, e esta esturrou toda, as ervilhas ficaram
negras como carvão e era impossível despegá-las do fundo
da panela. É pena que eu não possa contar esta história
ao meu professor Kepler... teoria da hereditariedade.
Ontem à noite fomos todos ao escritório particular para
ouvir a emissão da B. B. C. Estava com muito medo de
que alguém na vizinhança pudesse dar por ela e supliquei
ao pai que voltasse conosco para cima. A mãe compreendeu-me
e veio comigo. Estamos sempre com receio de que
alguém nos possa ver ou ouvir. Logo no primeiro dia
fizemos cortinas. São simplesmente retalhos de diferentes
formas e cores, ajuntados e cosidos pelo pai e por mim.
Estas peças de luxo estão pregadas aos caixilhos das janelas
com "punaises" e aí ficarão enquanto durar o nosso
"mergulho".
à direita da nossa habitação há uma grande casa
comercial e à esquerda uma carpintaria. Nestes edifícios
não fica ninguém depois das horas de trabalho, mas nunca
se sabe ao certo se os nossos ruídos não chegam a ouvir-se.
Por isso proibimos a Margot, que anda terrivelmente
constipada, de tossir de noite. Coitada da rapariga,
volta e meia obrigam-na a engolir codaína. Na terça-feira
chegarão os van Daans. Estou contente. Será mais agradável assim e menos monótono. Esta
calma enerva-me, principalmente
de noite; muito gostava eu que algum dos nossos protectores
também aqui dormisse. Aflige-me a ideia de não se
poder sair daqui e tenho medo de que nos descubram
e nos fuzilem. É isto que pesa sobre mim de um modo
horrível. Durante o dia não nos podemos mexer à vontade.
não podemos pisar o chão com força e temos quase de
cochichar em vez de falar, pois lá em baixo, no armazém,
não nos devem ouvir. Desculpa. Estão a chamar-me.
Tua Anne.

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