sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O Diario de Anne Frank-Parte 22

Leituradiaria.comSexta-feira, 12 de Março de 1943
Querida Kitty:
Posso apresentar-ta: a mamã Frank, defensora da juventude,
reclama manteiga suplementar para a gente nova.
Luta pelos problemas dos jovens modernos. Luta pela
Margot, por mim e pelo Peter, e depois de grandes discussões
consegue sempre o que pretende.
Estragou-se um frasco de língua de conserva. Resultado:
Jantar de gala para o Mouchi e o Bochi. É verdade, tu
ainda não conheces o Bochi. Dizem que já estava no
imóvel antes de chegarmos nós, os "mergulhadores". Agora
é o gato do armazém e do escritório e afasta os ratos.
O seu nome político explica-se fàcilmente. Antes, a casa
tinha dois gatos : um para o armazém, outro para o sótão.
Quando os dois se encontravam havia sempre luta. Infalivelmente
o do armazém é que começava, mas o do sótão
é que vencia. E, por isso, foram baptizados : o do armazém
era o alemão ou o Bochi, o do sótão, o inglês ou o Tommy.
O Tommy desapareceu e o Bochi é a nossa distracção
quando vamos para baixo.
Comemos tantas vezes feijão branco que já não posso
vê-lo à minha frente e fico enjoada só de pensar nele.
Ao jantar já não temos pão.
O pai acaba de dizer que está preocupado com vários
assuntos. Tem olhos tristes, o pobre!
Ando maluca com o livro De Ylop op de Deur, de Ina
Boudier-Bakker. É o romance de uma família, extraordinário
nas descrições. As passagens que tratam da guerra,
dos problemas da mulher, dos escritores, não os acho
tão bem; com toda a franqueza, são assuntos que me
interessam pouco.
Bombardeamentos sobre a Alemanha. O sr. van Daan
anda de mau génio por não haver cigarros.
O problema de se havíamos de comer já ou não os
legumes de conserva resolveu-se a nosso favor. Além das
minhas botas de ski, já não me servem nenhuns sapatos
e as botas são bastante incómodas em casa. Umas sandálias
de palha entrançada duraram uma semana, e acabou-se.
Pode ser que a Miep encontre qualquer coisa no
mercado negro. Agora tenho de cortar o cabelo ao Pim.
Disse ele que, mesmo depois da guerra não pode voltar
ao cabeleireiro, por eu o servir tão bem, embora eu
o corte tantas vezes na orelha!
Tua Anne.
Quinta-feira 18 de Março de 1943
Querida Kitty:
A Turquia entrou na guerra... Estamos impacientes pelas notícias da rádio.
É mesmo assim que a rádio transmite este repugnante
teatro de marionetas. Dá quase a ideia de que os soldados
têm orgulho das suas feridas: mais e melhor:
Um deles a quem o Führer consentiu em apertar a
mão-caso ainda tivesse alguma-nem conseguiu falar.
Tua Anne.

Sexta-feira, 19 de Março de 1943
Querida Kitty:
à alegria seguiu-se uma decepção muito maior. Afinal
a Turquia ainda não entrou na guerra. O Ministro do
Exterior só apelou no seu discurso para que cessasse a
neutralidade. O vendedor dos jornais no "Pan" tinha
gritado :
"A Turquia está do lado dos ingleses".
Assim nasceu o boato e chegou até nós.
As notas de 500 e 1000 florins vão deixar de ter valor.
Os negociantes do mercado "negro" e os possuidores de
dinheiro "negro" vão-se ver em maus lençóis, mas o problema
é também grave para as pessoas "mergulhadas".
Quando se quer trocar uma nota de mil florins é-se obrigado
a declarar e a provar donde ela vem. Para já, mas
só até ao fim da próxima semana, ainda estas notas podem
ser utilizadas para pagamento dos impostos.
O Dussel recebeu a sua broca de mão e, em breve,
vai examinar os meus dentes.
O "Führer" de todos os germânicos falou perante os
seus soldados feridos e depois "conversou" ainda com eles.
Que tristeza ouvir aquilo! Um exemplo:
-Meu nome é Heinrich Scheppel!
-Onde ficou ferido?
-Diante de Estalinegrado.
-Que feridas tem?
-Perdi os dois pés por causa do frio e fracturei o
pulso esquerdo!
Tua Anne.

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